O que havia de podre no reino da Dinamarca não nasceu com Cláudio e, certamente, não morreu com Shakespeare. Esferas de poder deslizam diária e suavemente de mãos honestas para mãos corruptas, sem que haja óbice que lhes impeça. E sem que os maniqueístas antevejam para qual lado o poder penderá a seguir: para o bem ou para o mal. “É como jogar uma moeda para o alto e torcer para que ela caia com a face correta virada para cima. A diferença é que não se trata de um jogo de sorte, de um artifício do destino, de uma providência divina. Tampouco se trata da sobrevivência do mais forte. Todo este jogo se resume na pergunta: afinal, qual é a face correta da moeda?” — interroga o narrador de Urubu-rei. Nesta história, as Famílias Albuquerque e Bragança são faces desta mesma moeda, desvalorizada pelo tempo, e lutam para permanecer nobres através das eras do Brasil: da Colônia para o Império; do Império para a República; da República para os dias atuais. Com cirúrgica acuidade ao tecer um panor